quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sem palavras

Brancas, suaves mãos de irmã
Que são mais doces que as das rainhas,
Hão de pousar em tuas mãos, as minhas
Numa carícia transcendente e vã.

E a tua boca a divinal manhã
Que diz as frases com que me acarinhas,
Há de pousar nas dolorosas linhas
Da minha boca purpurina e sã.

Meus olhos hão de olhar teus olhos tristes;
Só eles te dirão que tu existes
Dentro de mim num riso d’alvorada!

E nunca se amará ninguém melhor;
Tu calando de mim o teu amor,
Sem que eu nunca do meu te diga nada!...

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

1 comentário:

N@noTeC no seu melhor, ou não... disse...

Das palavras que me dizes
Tiro o conforto que me falta

Das carícias que me fazes
Em minha mente o amor salta


Quando o falso purismo alerta
Com o desejo tu vens a correr

Quando a negação flui, desperta
Na mão insana, a marca do sofrer


Porque já não me amas
Porque não me possuis

Liberta-me desta ama
Que em consumo se traduz


Será razão para partir
Dilacerar, esviscerar meu coração

Não depende só de ti
Essa interminável paixão


Das palavras que recitas
Tiro a mentira que reside

E da verdade, onde me excitas
Retiro minha parte que em ti existe


Quero-te todo, tudo
Cem sentimentos por vezes

Por fim, de ti calado mudo
Quero as palavras que me dizes

by N@noTeC