quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Para o Meu Coração...

Para o meu coração basta o teu peito,

para a tua liberdade as minhas asas.

Da minha boca chegará até ao céu

o que dormia sobre a tua alma.



És em ti a ilusão de cada dia.

Como o orvalho tu chegas às corolas.

Minas o horizonte com a tua ausência.

Eternamente em fuga como a onda.



Eu disse que no vento ias cantando

como os pinheiros e como os mastros.

Como eles tu és alta e taciturna.

E ficas logo triste, como uma viagem.



Acolhedora como um velho caminho.

Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.

Eu acordei e às vezes emigram e fogem

pássaros que dormiam na tua alma.



Pablo Neruda, in "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"

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